Roça e engenho da Família Heidenreich
Alto Ribeirão da Ilha, Florianópolis
A cultura de engenho é mantida pela quarta geração da família Heidenreich, originária da Alemanha, no Alto Ribeirão da Ilha, Florianópolis. Seu Jacob (carpinteiro aposentado) e dona Yolanda, são pais de João (engenheiro agrônomo) e Graciela (professora) que seguem alimentando o amor da família pela biocultura da mandioca. O apreço pela planta pode ser visto logo ao passar pelo portão de entrada da propriedade, a mandioca compõe jardim. João é o encarregado pelo cultivo da roça e pela produção da farinha, que acontece nos meses de Julho e Agosto. Com as mandiocas cultivadas na propriedade, a família produz farinha para um ano, além de fornecer para familiares e vizinhos. Antigamente a família cultivava em uma área muito maior, com espaço para plantação de milho, criação de boi, mas a especulação imobiliária foi mudando o cenário e a realidade.”Quem hoje em dia quer deixar um pedaço de terra para plantar mandioca e criar boi?, conta Graciela.
Este engenho também faz parte da Rede Catarinense de Engenhos de Farinha. Graciela nos diz: ”Seria muito bom poder preparar o espaço para receber turismo pedagógico”, como um sonho de poder compartilhar essa cultura e lutar o máximo possível para que não seja esquecida.
Quando acompanhei o João aos fundos do quintal da casa, não esperava ver um pequeno sítio em tão pouco território. Fiquei surpreendido com a força e vida que as plantas tinham.
Pedi para João se podia me falar mais sobre a biologia da planta, então fomos caminhando lentamente até um pé de Mandioca e a aula começou.
“O que você vê no meio da raiz é a maniva, o que se planta para fazer a planta. Da maniva crescem 
as raízes que é o alimento que nós consumimos. E para cima cresce o caule, procurando o sol e a umidade. Às vezes, quando a mandioca não tem suficiente sol, o caule cresce muito alto, mas a raiz fica fraca e termina caindo ou morrendo. Assim que a planta supera os primeiros meses, ela suporta todo tipo de clima. Mas o importante é a chuva e o sol no período certo, por 
isso voltamos a plantar em Outubro”, explica João.
A maniva é um pedaço do caule. Depois de tirar a raiz, o caule é armazenado protegido do frio até 
ser plantado. Antes de plantar, o talo se corta em pedaços com a ponta em diagonal para ele crescer para cima. No centro podemos ver uma parte mais branca onde se concentram os nutrientes. Quanto 
mais grosso o tronco, mais nutrientes tem a planta.
João cortou o talo sem duvidar e quase não me deu o tempo de registrar o momento. Quando quis ver, ele já estava com a maniva na mão e procurando a enxada. 
Durante o plantio as vezes é preciso limpar o terreno e adubar até três vezes, dependendo dos nutrientes da terra. O processo mais importante é o de capinar. Capinar é tirar o capim que cresce
em volta da raiz e consome seus nutrientes. A Mandioca é uma planta que cresce sozinha, não precisa de agrotóxicos, nem fertilizantes.
A Maniva: a rama da mandioca cortada em pequenos pedaços que logo são plantados de forma horizontal na terra dando origem a uma nova planta e novas raízes. 
O curioso da mandioca é que uma nova planta nasce do mesmo talo da planta anterior e não da 
semente. Isso significa que, basicamente a planta esta sendo clonada. É por isso que uma planta 
que cresceu em uma zona durante muito tempo, dificilmente cresça em outras condições totalmente diferentes. A semente armazena a informação e “aprende” a cada nova geração, a maniva tem sempre a mesma informação.
Como o conhecimento do processamento da mandioca é de origem indígena, ainda são utilizadas
ferramentas que eles criaram. Como é o caso da cuia, criada com a abóbora cabaça seca.
Seu Jacob e dona Yolanda estavam sempre juntos durante a minha visita. Eles me olhavam fixo e não 
me falavam praticamente nada. Penso eu que tentavam entender o sotaque do gringo. Aproveitei esse olhar curioso e pedi um retrato. A dona Yolanda me respondeu: “Querido, quem vai querer um retrato 
de nós, só se quiser assustar alguém”. No fim, eles se arrumaram e olharam profundamente para 
câmara.
Jacob guarda no seu interior a sabedoria de seus ancestrais. Ele é quem herdou o conhecimento e quem agregou sua própria experiência. João segue os passos de seu pai e é a próxima geração de forneiros de farinha de mandioca da família Heidenreich que sabe quando a farinha está no ponto só pelo cheiro.
Família Heidenreich
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